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Em 2005, Neil Swidey escreveu um artigo para o The Boston Globe, relatando sua experiência ao conhecer dois gêmeos idênticos que ele chamou de Thomas e Patrick. Na ocasião, os dois tinham apenas sete anos e, de acordo com Swidey, Thomas era uma criança com comportamentos típicos de meninos, sendo até mesmo mais agressivo em alguns momentos. Patrick, por outro lado, foi descrito como sociável, atencioso e sensível.

De acordo com a mãe dos meninos, Patrick apresentava a chamada não conformidade de gênero. No caso dele, esse espectro comportamental se apresentava pela falta de interesse de Patrick por atividades consideradas “de meninos” e a preferência por aquelas consideradas “de meninas” – vale lembrar que a não conformidade de gênero é uma questão que vai muito além de assuntos “para meninos” e “para meninas”, até mesmo porque essas segregações têm mais a ver com imposições sociais do que com a real identidade de gênero.


Ainda assim, Swidey escolheu analisar o caso dos irmãos gêmeos na tentativa de observar a evolução da orientação sexual desses meninos. Dessa forma, ele também poderia testar a teoria de que a maioria dos garotos com não conformidade de gênero acaba por se tornar homens que sentem atração sexual por outros homens – e não apresentam questões relacionadas à identidade de gênero, como se pode imaginar em um primeiro momento.



Ao pesquisar a orientação sexual dos garotos, Swidey buscou mostrar as diferenças nesse sentido, mesmo entre gêmeos idênticos que foram educados da mesma forma. Dessa maneira, sua intenção era questionar algumas teorias a respeito da raiz da homossexualidade, especialmente das que sugerem que orientação sexual teria a ver com estímulos externos.

Quando conheceu os meninos, há dez anos, Swidey descobriu outras possíveis explicações para a homossexualidade, e uma delas relacionava o comportamento sexual de indivíduos com o ambiente intrauterino no qual foram gerados.


Swidey falou a respeito dos estudos pioneiros do neurocientista britânico Simon LeVay, que, em 1994, publicou o resultado de pesquisas que mostravam diferenças no tamanho de determinadas regiões cerebrais quando comparamos os cérebros de homens heteros com os de homens homossexuais, dando origem à fundamentação biológica dos estudos sobre sexualidade.



Em uma conferência que reuniu cientistas que pesquisam assuntos relacionados à orientação sexual, Swidey percebeu que, se antes a comunidade científica se via cética quando o assunto envolvia homens que diziam não se enquadrar tanto em comportamentos heterossexuais quanto em homossexuais, hoje o cenário parece ter evoluído um pouco.

Um artigo publicado no New York Times em 2005 causou grande comoção entre pessoas que se descrevem como bissexuais. Intitulado “Hetero, gay ou mentiroso?”, o texto questionava a legitimidade da bissexualidade, fundamentando seus argumentos nos estudos de J. Michael Bailey, que já tem um histórico de controvérsias no ambiente científico. Muito antes de Bailey,Alfred Kinsey já havia elaborado uma escala de sexualidade que vai de zero a seis e é usada como modelo até hoje.

Quando monitorou a excitação de homens que se consideravam bissexuais, na tentativa de provar que, na verdade, eles eram gays, Bailey descobriu que esses homens ficam sexualmente excitados tanto com imagens eróticas de homens quanto com as de mulheres. “Isso é muito raro”, foi o que ele comentou, de acordo com Swidey.


Com relação às mulheres, o autor do artigo comenta que os estudos recentes a respeito do tema mostram que no gênero feminino essa questão é ainda mais complexa. Alguns estudos já comprovaram, por exemplo, que mulheres tendem a apresentar padrões de excitação bissexual mesmo quando se identificam como heterossexuais.

Para a psicóloga Meredith Chivers, de Ontário, talvez as mulheres heterossexuais demonstrem excitação quando veem imagens de outras mulheres atraentes como uma espécie de resposta de parceria e não necessariamente de interesse sexual. Outro fator que dificulta os estudos a respeito da sexualidade feminina é o fato de que, diferente dos homens, que podem ter suas ereções monitoradas, medir a excitação das mulheres não é tão simples.

Em questão de números, mais de 95% da população se define como heterossexual. Novas pesquisas sugerem, no entanto, que esse índice de heterossexualidade é tão elevado porque as pessoas não consideram, na hora de falar a respeito das próprias preferências, os espectros da escala Kinsey.



Com relação às nossas características genéticas, um dado curioso: a estimativa é a de que pelo menos 150 genes estejam envolvidos nas funções que determinam apenas a altura de uma pessoa. Considerando a complexidade da orientação sexual de um indivíduo, espera-se que, no mínimo, a mesma quantidade de material genético esteja envolvida. A questão levantada por Swidey, com relação à genética, é: como é possível que irmãos gêmeos idênticos, que dividem 100% de seus genes, tenham orientações sexuais diferentes?

De acordo com o psiquiatra Alan Sanders, que avaliou 409 pares de irmãos gêmeos idênticos, irmãos gays têm os mesmos marcadores genéticos em seus cromossomos X, em uma região chamada Xq28 e também no cromossomo 8.

Para Sanders, esses resultados podem ajudar a ciência a descobrir o que, de fato, faz com que uma pessoa seja homossexual – já se sabe que não é uma questão de escolha e é preciso sempre reforçar isso. Depois desse grande levantamento de dados, o pesquisador também acredita que, na verdade, questões genéticas podem ter um papel menor do que se pensava na questão da sexualidade humana. Antes, acreditava-se que características genéticas eram responsáveis por 40% de nossos traços sexuais; hoje, estima-se que esse número tenha caído para 30%.



Para Swidey, isso pode explicar sua teoria de que o ambiente intrauterino também interfere na formação da sexualidade humana. Dessa maneira, ele explica que mesmo os gêmeos idênticos Thomas e Patrick podem ter tido uma vida pré-natal com experiências diferentes. Isso poderia explicar também, por exemplo, por que Patrick nasceu com meio quilo a menos do que Thomas.

Existe uma linha de pesquisa que investiga a possibilidade de que a mãe desenvolva uma espécie de reação autoimune quando está gerando um filho do gênero masculino. Os cientistas que defendem essa ideia acreditam que o corpo da mãe produz um anticorpo que se liga a uma proteína específica do cromossomo Y e que seria capaz de interferir no processo de orientação sexual do feto. Será?

Para o psicólogo inglês Qazi Rahman, a homossexualidade pode ser atribuída a fatores como genética, interações hormonais pré-natais e, ainda, a questões relacionadas ao desenvolvimento neurológico do feto. Não se pode afirmar, portanto, que um ou outro fator específico modelam a sexualidade do ser humano. O que se sabe, até então, é que vários fatores podem influenciar, mas sem que sejam vistos como regra.


Quando Swidey reencontrou os dois irmãos dez anos depois de ter escrito seu primeiro texto sobre eles, foi preciso que a mãe dos garotos explicasse para eles o que estava acontecendo, ainda que tudo o que ela tenha dito a Thomas era que eles estavam encontrando um amigo jornalista que ela não via há uma década.

Já para Patrick, ela disse que o tal amigo jornalista o havia conhecido quando ele ainda era apenas uma criança que apresentava traços comportamentais que poderiam ser considerados femininos.

O encontro foi breve e, enquanto os irmãos estiveram presentes, Swidey buscou abordar assuntos leves, com temáticas como esportes, escola e planos para a faculdade. Os garotos passaram pouco tempo na presença do jornalista e da mãe e logo foram embora. A mãe perguntou se Swidey era capaz de identificar qual dos garotos era Thomas e qual era Patrick.

Bom observador, Swidey conseguiu identificar os garotos ao reparar na forma como falavam e gesticulavam, por exemplo. Patrick, segundo ele, continua com traços que são considerados mais femininos, ainda que essas diferenças tenham sido bem mais sutis do que quando os dois eram crianças.



Quando conheceu os garotos, Swidey percebeu uma grande diferença comportamental entre eles, mas, de acordo com a mãe, Patrick demorou menos de um ano para parar de apresentar comportamentos femininos e perder o interesse por brincar com bonecas – ela nunca impediu que o filho brincasse com brinquedos considerados femininos.

Com relação ao que não mudou, a mãe disse que Patrick continua a manter amizades mais próximas com meninas, e Thomas, com meninos. Quando os dois foram para o equivalente ao ensino médio brasileiro, a mãe afirmou que a heterossexualidade de Thomas pareceu inquestionável. Agora ao tentar falar a respeito com Patrick, ainda que tenha deixado claro que nenhuma orientação sexual seria motivo de problemas familiares, houve certa resistência por parte do garoto, que parece sempre mudar de assunto.

Para Swidey, Patrick superou suas questões de não conformidade de gênero e, portanto, talvez não tenha problemas relacionados à própria identidade de gênero. Ainda assim, ele acredita que o adolescente pode ser homossexual. Por enquanto, ele não demonstra interesse em falar sobre o assunto, especialmente com a família e, considerando que ele é um adolescente de 17 anos, essa falta de abertura não é muito diferente do que acontece com a maioria das pessoas.



Fonte: Mega Curioso  

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