Como que, em
apenas cinco anos de vida, a Xiaomi conquistou a posição de 5ª maior fabricante
de smartphones do mundo e se tornou a maior ameaça à supremacia da Apple?
A empresa, que estreou no Brasil em julho com a venda de seu celular de
entrada, o Redmi 2, esgotou o estoque em todas as flash sales (vendas
“relâmpago”) que promoveu até agora. A forte demanda fez com que a empresa
decidisse vender o aparelho “full time” (disponível para compra a
qualquer momento) a partir de hoje. Mas como que a novata no mercado brasileiro
conquistou esse importante espaço no mercado em menos de 2 meses?
Editor de
tecnologia de Veja, Filipe Vilicic entrevistou o vice-presidente da Xiaomi Hugo
Barra na chegada da empresa ao Brasil. Em sua entrevista a TVEJA, Barra
apresenta alguns dos produtos da empresa, fala sobre Steve Jobs, e sobre sua
decisão de sair do Google para liderar a expansão internacional da Xiaomi.
Confira o vídeo abaixo e conheça mais sobre a estratégia de negócios da empresa
na coluna desta semana.
Virando o modelo
de negócios de ponta-cabeça
O êxito da Xiaomi
no mundo e no Brasil é pelo fato da empresa oferecer aparelhos de altíssima
qualidade por preços que são uma fração da concorrência. O Redmi 2, que lançou
no Brasil, por exemplo, custa 499 reais à vista, preço que chega quase à metade
do preço de concorrentes com especificações técnicas similares. Com essa
proposta de valor única a empresa tem conquistado legiões de fiéis de sua marca
– conhecidos como Mi-fãs – mundo afora, em grande parte jovens ligados a
tecnologia e na marca descolada e divertida da empresa.
A empresa
interage com seus fãs através das redes sociais e em grandes eventos e
convenções, fidelizando cada vez mais o consumidor. Esse investimento em
dialogar com o consumidor, importante também para o desenvolvimento de novos
produtos que atendem às necessidades dos fãs, deixa com que a empresa invista
somente em torno de 3% de sua receita em despesas de marketing e vendas, de
acordo com um estudo recente da empresa de pesquisa de mercado Bernstein.
Em comparação, a concorrente Samsung, que não conta com os Mi-fãs, tem que
gastar em torno de 8% de sua receita com despesas de marketing e vendas. Essa
importante economia que a Xiaomi gera com suas despesas de marketing é
repassada ao consumidor final, em um preço bem mais atrativo.
Porém, a forma
disruptiva da Xiaomi atuar no mercado não se limita à sua estratégia de
marketing. A cadeia de distribuição usada pela empresa também é bem mais
enxuta, com menos intermediários e distribuidores – desde as operadoras de
celular às lojas de revenda –, adicionando suas margens ao longo do caminho e
inflacionando o preço final pago pelo consumidor. Os produtos da Xiaomi
são vendidos somente diretamente pela empresa, através do seu site mi.com, estratégia inédita
nesse mercado e que viabiliza os preços agressivos praticados pela empresa.
Da China para o
Mundo
Embora a Xiaomi
tenha conquistado o lugar de quinta maior fabricante de smartphones do mundo,
fez isso principalmente se tornando a maior da China, onde começou. A expansão
internacional começou a menos de dois anos atrás quando Hugo Barra deixou a
liderança da plataforma Android no Google para se juntar ao carismático Lei
Jun, fundador da Xiaomi, na busca da pole-position dos smartphones. Lei Jun diz
que a empresa será a maior do mundo em apenas 5 anos, e tem se capitalizado
para tornar essa visão uma realidade.
Em apenas cinco
anos de empresa, a Xiaomi hoje é considerada uma das mais valiosas empresas de
tecnologia do mundo que ainda não abriram capital. Uma espécie de “super-unicórnio”, no linguajar das startups. Avaliada em quase
50 bilhões de dólares, a Xiaomi conta com o Russo Yuri Milner, via seu fundo
DST, como um de seus principais acionistas. Milner, que é mais bem-conhecido
por aposta bilionária no Facebook antes da rede social valer bilhões de
dólares, disse em entrevista à Bloombergque acredita que a Xiaomi chegará a um
valor de 100 bilhões de dólares em breve.
Aqui no Brasil,
mesmo com a forte estreia, a empresa ainda tem muito chão pela frente. O
consumidor brasileiro ainda tem uma visão defasada sobre a qualidade de
produtos feitos por empresas chinesas. Poucos se dão conta que muitos
smartphones importados da China, aqueles de qualidade como os da Xiaomi, são produzidos
em fábricas da Foxconn iguais às que a Apple contrata para produzir seus
iPhones, também na China. Essa educação do mercado torna o caminho da Xiaomi um
pouco mais desafiador do que em outros mercados, mas também apresenta uma
excelente oportunidade para sua liderança brasileira, que tem a vantagem de
estar jogando em casa.
Eu acredito que
mesmo com mais alguns anos difíceis na economia brasileira, o apetite
brasileiro por smartphones só vai crescer. Nosso consumidor já dá prioridade a
trocar seu smartphone do que seu carro ou televisão e com planos e aparelhos
cada vez melhores e mais baratos, isso só vai acelerar. Com o consumidor
buscando conquistar smartphones com cada vez mais qualidade, e ao mesmo tempo
com um preço que encaixe em seu orçamento apertado, o momento do mercado não
poderia ser melhor para a Xiaomi. Minha previsão é que, até o final do ano que
vem, ou no máximo até 2017, a empresa terá conquistado a liderança do mercado
brasileiro em vendas de novos celulares.
Fonte: Veja
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