Quando nós
perdemos ou temos alguma coisa roubada, podemos ter muitas sensações diferentes
e, entre raiva e tristeza, tentaremos a todo custo recuperar o que nos foi
tirado. É um drama que aumenta na medida em que o valor do objeto for maior,
tanto do ponto de vista material, quanto do sentimental. Agora imagine você, se
for um instrumento de trabalho ou de um hobby, mas que te traz satisfação ao
realizar a atividade. Bem, uma história relatada no site NPR pode fazer você se
sentir no lugar da vítima e sentir o drama que, apesar de tudo, foi resolvido.
A
situação é curiosa por diversas maneiras, entre elas o fato de que a vítima em
questão era pai da repórter responsável pela matéria, Nina Totenberg. Roman
Totenberg era violinista e teve seu instrumento roubado em 1980, após uma
apresentação, quando dava atenção a alguns fãs, e o violino simplesmente sumiu
de seu escritório na Escola de Música Longy, na cidade de Cambridge, nos
Estados Unidos. O problema é que a peça não é um instrumento qualquer, e sim um
violino raro do tipo stradivarius, produzido em 1734, que vinha acompanhando
Totenberg há muito tempo, pelo menos 38 anos, em apresentações e aulas de
música.
Roman Totenberg
era professor
e faleceu em 2012, aos 101 anos, levando consigo a eterna
frustração de nunca mais ter visto o seu "companheiro" de música.
Segundo o relato de sua filha, Nina, o professor de música sofreu com a perda,
não só pelo sentimento de prejuízo, mas também por ter de se readaptar e
adequar todo o seu repertório a outro violino, um do tipo Guarneri, o qual
adquiriu após perder as esperanças de encontrar o stradivarius furtado. A
repórter ainda conta que, durante os 32 anos em que esteve vivo após o
incidente, Roman sonhava em encontrar o seu “amado instrumento” em seu estojo
de violino novamente.
Infelizmente,
para Roman, o reencontro não aconteceu, mas uma ligação recebida por Nina no final
de junho, certamente, aonde quer que o falecido pai esteja, fez com que ele se
sentisse extremamente feliz. O telefonema era do agente especial do FBI,
Christopher McKeogh, e ele afirmou: “Nós acreditamos que o FBI recuperou o
violino roubado de seu pai”. De acordo com Nina Totenberg, a emoção tomou conta
dela e das irmãs, para as quais ligou após saber da notícia, mesmo que ainda
não totalmente confirmada.
A correspondente
do site NPR diz que custou a acreditar na notícia, mas em seu relato conta que após
tudo ser esclarecido, confirmou que o violino, sumido há 35 anos, estava de
volta à posse da família Totenberg. Com essa história incrível, Nina também
aproveitou para fazer um apelo em nome dos oficiais do FBI. Isso porque há mais um caso
famoso de violino stradivarius roubado, o que aconteceu em 1995, no apartamento
da então dona do instrumento, a violinista Erica Morini. Nina conta
que o agente especial McKeogh acredita que a situação do violino de Totenberg
pode motivar alguém que tenha informações sobre o instrumento de Erica Morini a
ajudar o FBI a encontrá-lo.
O ladrão
Desde que o furto
aconteceu, segundo conta Nina, Roman Totenberg teria tido somente um suspeito,
um jovem chamado Phillip Johnson. Ele era desconhecido do professor
violinista e da família Totenberg, mas foi visto perto do escritório de Roman próximo
do momento em que o instrumento foi roubado. Além disso, um tempo depois, uma
ex-namorada de Johnson procurou a família para denunciar o ex-namorado, dizendo
que ele realmente havia roubado o item.
Na época, as
autoridades disseram que isso não seria suficiente para emitir um mandado de
busca. Essa constatação fez, inclusive, com que a mãe de Nina, esposa de Roman,
procurasse alguns amigos perguntando se alguém estava disposto a invadir a casa
do suposto ladrão a fim de verificar se ele realmente estava com o violino e,
então, recuperar o artefato.
Depois de se
mudar para a Califórnia, Johnson teve uma carreira musical fracassada e morreu
de câncer, aos 58 anos, em 2011. Quatro anos depois, em uma limpeza da casa
junto do novo namorado, a ex-mulher do suspeito encontrou uma caixa de violino
que foi deixada pelo ex-marido. Eles então estouraram a tranca e descobriram o
instrumento. Como havia uma informação com o ano de fabricação de 1734 e do
renomado fabricante de violinos Antonio Stradivari, a mulher recorreu a um
amigo para constatar a autenticidade do objeto.
Por indicação do
amigo, em contato com o fabricante e avaliador de violinos Phillip Injeian se
descobriu que o artefato era verdadeiro. Quando o avaliador teve a certeza de
que se tratava mesmo do stradivarius de 1734, Injeian falou que tinhas duas
notícias para a ex-mulher do ladrão, uma boa e outra ruim. “A boa notícia é o
violino é realmente um stradivarius. A má-notícia é que ele foi roubado de
Roman Totenberg há cerca de 35 anos”.
Ele sabia que o
objeto era furtado em virtude da grande repercussão do caso e da fama que
cercava, em especial, a peça que pertenceu ao professor Totenberg. Chegou à
conclusão após o analisar um catálogo com as peças stradivarius conhecidas em
que constava a informação acerca da história do instrumento. Com a constatação,
Injeian entrou em contato com as autoridades do FBI e a partir daí o objeto foi
devolvido à família Totenberg.
Os violinos
stradivarius e o instrumento de Roman Totenberg
São chamados
stradivarius todos os instrumentos fabricados pela família italiana Stradivari,
em especial os violinos e violoncelos. O membro mais notável da família é
Antonio Stradivari, responsável por produzir mais de mil violinos entre os
séculos XVII e XVIII. Desses mil, restam aproximadamente 550 que ainda estão em
circulação e todos possuem um valor extremamente alto. O diferencial dos
violinos de um dos mais famosos luthier da história é justamente o som incomum
que produzem e que, por séculos, eram apontados como fruto de um mistério
jamais desvendado. Em 2012, o Mega Curioso trouxe a notícia de
que o mistério talvez tivesse sido desvendado com uma experiência realizada por
um professor sueco.
Não é só o som
que faz de um stradivarius um item de alto valor de venda e cobiçado por
músicos e colecionadores. Cada peça de stradivarius possui uma história, afinal
são 3 ou 4 séculos de existência. No caso do item de Roman Totenberg, a sua
grande fama se dá por ter sido tocado por George Ames, famoso violinista, no
final do século XVIII. Dessa forma, o violino de Totenberg também é conhecido
por “Ames Strad” (abreviação de stradivarius).
Além do exemplar
Ames Strad e do, também furtado, instrumento de Erica Morini, outro
stradivarius ficou famoso por sua história. Trata-se do violino de Wallace
Hartley, que é nada mais nada menos que o líder da banda que tocava para os
passageiros do navio naufragado mais famoso da história, o Titanic.Este exemplar
fabricado pelo luthier italiano foi leiloado, em 2013, por 900 mil libras,
o que na cotação atual, valeria quase R$ 5 milhões.
Novo dono para o
“Ames Totenberg Strad”
Após recuperar o
instrumento perdido de seu pai, a repórter Nina Totenberg explica que agora a
ideia da família é vender o violino, mas não simplesmente para se desfazer do
objeto. Por ter convivido com a história de Roman Totenberg e seu violino
stradivarius, a família sabe o quanto um violinista sabe cuidar e zela por um
item raríssimo como esse. Com isso, a ideia é tentar garantir que o instrumento
seja vendido a um músico digno de sua importância, que garantirá shows e
concertos de sucesso ao redor do mundo.
Fonte: Mega
Curioso
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