Depois de demonstrar que o cérebro tem um "GPS interno", um
grupo de cientistas da Noruega descobriu que ele também tem um
"velocímetro". Em um novo estudo publicado nesta quarta-feira, 15, na
revista "Nature", os pesquisadores revelam que o cérebro dos ratos
possui um grupo de neurônios responsável por processar a velocidade. À medida
que os ratos correm mais rápido, esse grupo de células nervosas dispara em
taxas mais altas.
Os autores principais do estudo, Edvard Moser e May-Britt Moser já
apontaram em 2005 a existência das "células de localização", que
formam no cérebro um sistema de posicionamento, permitindo que uma pessoa se
oriente no espaço. A descoberta dessas células, descritas como uma espécie de
"GPS interno", rendeu ao casal de cientistas o prêmio Nobel da
Medicina de 2011. No novo estudo, eles descrevem a descoberta das "células
de velocidade", que funcionam exclusivamente para codificar informações
sobre a velocidade. As células de velocidade correspondem a cerca de 15%
dos neurônios existentes no córtex entorrinal medial - uma área do cérebro - e
processam a velocidade de maneira independente, isto é, elas só disparam em
taxa mais alta quando muda a velocidade do animal, sem correlação a direção da
corrida.
De acordo com Edvard Moser, as células de velocidade fornecem um
elemento que estava faltando para a compreensão completa das células de
localização. Segundo ele, as funções cerebrais de localização no espaço são
dinâmicas e não poderiam ser explicadas apenas pelas dimensões espaciais. Para
se orientar no espaço, o cérebro - assim como qualquer aparelho de GPS -
precisa não apenas conhecer o mapa do local e o posicionamento de um objeto,
mas também a sua velocidade em relação a um ponto inicial conhecido. A nova
descoberta agrega a dimensão temporal às células de localização.
"O mapa produzido (no cérebro) pelas células de localização é
dinâmico, no sentido em que a seleção de células de localização ativas muda de
acordo com os nossos movimentos no espaço. Quando nos movemos, a atividade
desse mapa muda de uma maneira que reflete diretamente nossa localização no
ambiente.
Para que isso aconteça, as células de localização precisam de
informações instantâneas sobre nossa velocidade, de forma que os movimentos no
mapa cerebral possam refletir diretamente os movimentos no ambiente
externo", disse Moser à reportagem. Embora sejam distintas das
células de localização, as células de velocidade interagem com elas de maneira
muito estreita, segundo Moser. "O mais provável é que as células de
localização sejam o principal receptor da informação fornecida pelas células de
velocidade", afirmou.
Segundo Moser, os neurônios relacionados ao posicionamento e à
velocidade podem ajudar a compreender como a consciência se forma no cérebro.
"O estudo das células de localização e de velocidade nos informam sobre o
funcionamento do córtex. Eles fornecem dicas importantes sobre os códigos
computacionais fundamentais do córtex. Como o córtex é fundamental para aquilo
que chamamos de consciência, aprofundar o conhecimento sobre ele poderá nos
ajudar a conseguir uma compreensão completa de como todas as regiões corticais
funcionam juntas - o que nos ajudará a entender a formação da
consciência", declarou o cientista.
Os próximos passos para a linha de investigação do casal Moser, segundo
o cientista, consistirá em investigar como os diferentes tipo de células do
sistema de posicionamento funcionam em conjunto. "Queremos saber como se
dá a interação entre as células de localização e de velocidade e como todos os
tipos de células dessa área do cérebro nos habilitam a perceber nossa
localização atual. Gostaria de descobrir também como esse mapa dinâmico de
posicionamento é lido pelo resto do cérebro e como essa leitura é traduzida em
ações", declarou Moser.
Para realizar a pesquisa, os cientistas implantaram em ratos eletrodos
capazes de registrar a atividade de milhares de neurônios do córtex entorrinal.
Os animais foram então presos sobre uma espécie de esteira rolante. Quando o
aparelho se movia, os ratos eram forçados a correr em velocidades variáveis
programadas em um computador. Com isso, eles descobriram uma relação
considerável entre a variação da velocidade e a atividade do grupo de neurônios
que foi batizado de células de velocidade.
Fonte: Mega
Curioso
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