Fundamental para
a pecuária no Nordeste, a palma está no centro de um projeto pioneiro de
irrigação com água de reúso que vem ajudando a reduzir os efeitos da pior seca
da região nos últimos cem anos. Batizado de Palmas para Santana, o programa foi
criado há um ano no município de Santana do Seridó, um dos cinco que contam com
saneamento básico total no Rio Grande do Norte. E o
resultado obtido nesse período vem animando especialistas, que já pensam em sua
expansão para outras cidades.
Rica em energia e
em água, a palma é uma planta utilizada historicamente na pastagem de gado.
"Sem ela não existe pecuária na região", explica o zootecnista
Geovergue Medeiros. Ainda mais em tempos de escassez extrema de água como o
atual, que faz 895 municípios do Brasil dependerem de carros-pipa para o
abastecimento, segundo o Observatório da Seca.
Prefeito de
Santana do Seridó, Adriano Gomes conta que a ideia do projeto surgiu após a
seca de 2013, quando a cidade perdeu mais da metade de seu rebanho.
"Encontramos nas estações de esgoto um potencial hídrico que não estava
sendo usado", diz Gomes.
Vencedor do
Prêmio Mandacaru 2014, que reconhece práticas inovadoras em acesso à água e
convivência com o semiárido, o Palmas para Santana faz o tratamento, a
decantação e a filtragem da água que serve de irrigação para a palma
forrageira. "Nosso objetivo é não mais perder animais em períodos de estiagem,
garantindo a produção de palma na região", conta o prefeito.
As atividades de
agricultura e de criação animal consomem grandes volumes de água. Para se ter
uma ideia, 961 mil litros (83% do total gasto) são utilizados a cada segundo
para irrigar plantações e matar a sede dos rebanhos em todo País. No consumo
urbano, o volume fica em 104 mil litros (9% do total). Em proporções
ilustrativas, é como colocar uma piscina olímpica ao lado de um balde de água,
de acordo com dados da mostra Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil,
publicada pela Agência Nacional de Águas (ANA) em 2013.
Por enquanto, o
Palmas para Santana funciona em uma área piloto, que deve ser ampliada em
breve.
"Nosso
objetivo é expandir para 12 hectares de plantação irrigada com água de reúso
até o ano que vem", explica o prefeito Gomes.
Especialistas do
Instituto Nacional do Semiárido (INSA) também acreditam no projeto e vêm
analisando de perto os resultados obtidos no município. "Acreditamos que
pode ser uma solução para a região, porque essa água de reúso já oferece
nitrogênio, potássio e fósforo, essenciais para a fertilização da terra",
afirma Salomão Medeiros, diretor substituto do INSA. "Culturas produzidas
com ela já produzem mais do que com adubação química, inclusive. Não vejo um semiárido
sem reúso no futuro." De acordo com Salomão, o instituto pretende levar a
iniciativa para outras cidades do Seridó potiguar e da Paraíba.
Presidente
executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos diz que a escassez de água
vem provocando mudanças de paradigmas. "A crise está trazendo à tona a
questão do esgoto. Não podemos dispensá-lo, afinal toda água é boa." O
vice-presidente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-RN), César
Militão, concorda com ele.
Fonte: Uol
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