A depressão pode
estar relacionada à ação das bactérias da flora intestinal. É o que sugere um
estudo do Instituto Farncombe de Pesquisas da Saúde Digestiva da Família da
Universidade McMaster, em Ontario, no Canadá. Realizada com ratos, a pesquisa,
publicada na página Nature Communications, constatou que a ação das bactérias
intestinais foi determinante para as alterações comportamentais apresentadas.
Este trabalho é
diferente de outros semelhantes realizados anteriormente. O professor Premysl
Bercik, principal autor da pesquisa, explicou ao site Medical Xpress que esse
estudo é o primeiro que analisa ratos submetidos a cargas de estresse no início
da vida. Essa condição acarretou o desenvolvimento e a ação dessas bactérias,
que, por sua vez, posteriormente, influenciaram a alteração comportamental. Até
então, já se sabia que as bactérias intestinais influenciavam no comportamento,
mas as pesquisas sempre foram realizadas com ratos saudáveis e normais.
Bercik ressaltou o
ineditismo do estudo que revelou o papel crucial das bactérias no comportamento
anormal dos ratos, afirmando que a conclusão vai além disso. “Não são só as
bactérias. É a alteração na comunicação bidirecional entre o hospedeiro com
alto nível de estresse e a sua microbiota intestinal que resulta em uma
condição de ansiedade e depressão”, declarou.
De acordo com
Bercik, essa pesquisa vai permitir a compreensão das relações de interação e dinâmica
entre o indivíduo e a sua flora intestinal. “Nosso trabalho mostra que as
mudanças, por menores que sejam, na estrutura da microbiota e seu metabolismo,
ocasionadas por estresse neonatal, podem implicar consequências muito
significativas na vida adulta do hospedeiro”.
O estudo
Para proporcionar
cargas de estresse aos ratos recém-nascidos, os pesquisadores separaram os
animais de suas mães por três horas diárias, do 3º ao 21º dia de vida. Todos os
dias, após o período longe da figura materna, os ratos eram colocados novamente
próximos das mães.
Detentores de uma
microbiota intestinal complexa, os ratos que passaram pelo procedimento no
início da vida, conforme confirmado pela equipe de Bercik, apresentaram níveis
anormais de corticosterona, hormônio responsável pelo estresse nos roedores.
Eles também demonstraram sintomas de ansiedade e depressão, além de uma
disfunção intestinal provocada pela acetilcolina, um dos principais
neurotransmissores desses animais.
Depois disso, os
cientistas realizaram os mesmos testes em ratos livres de germes no intestino
que igualmente passaram pelo processo de separação materna. Mesmo sem as
bactérias, esses exemplares também tiveram níveis alterados de hormônios do
estresse e disfunção intestinal. Entretanto, os espécimes não apresentaram
sinais de ansiedade ou depressão, com comportamento semelhante aos ratos do
grupo controle (aqueles que não passaram pelo estresse).
Ao transferir as
bactérias intestinais presentes nos ratos não estressados para os ratos até
então livres dos microrganismos, em pouco tempo a situação começou a mudar.
Poucas semanas depois, os roedores passaram a demonstrar ansiedade e depressão.
Já colocando as bactérias dos animais estressados no organismo dos não
estressados e livres de germes, nenhuma alteração foi observada.
Segundo o professor
Premysl Bercik, isso sugere que o comportamento depende de dois fatores. “Neste
modelo, o desenvolvimento do comportamento de ansiedade e depressão parece
tanto depender do fator hospedeiro quanto dos micróbios. Assim sendo, o
estresse neonatal aumenta a reatividade ao stress e à disfunção intestinal,
provocando mudanças na flora. Isso, por sua vez, acaba alterando a atividade
cerebral”, concluiu.
O próximo passo é
tentar entender como esse processo acontece e qual é o seu grau de influência
para moldar o comportamento do ser. A conclusão poderá contribuir com o campo
da psiquiatria, melhorando o entendimento de casos de alteração psiquiátrica.
Terá fundamental
importância a análise sobre a possibilidade desses resultados se aplicarem
também em humanos. De acordo com Bercik, uma das iniciativas será, por exemplo,
investigar pacientes com sintomas de ansiedade e depressão a fim de constatar
se possuem diferenças na atividade metabólica da microbiota ou qualquer anomalia
na composição de sua flora intestinal.
Fonte: Mega Curioso
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