No Colégio
Militar Tiradentes, em Maceió (Alagoas), os alunos vivem uma rotina militar. Lá
se respira a palavra disciplina. Localizado no Trapiche da Barra, zona sul da
cidade, há cinco anos se destaca no Enem por Escola com base em uma
"didática" baseada no rigor.
O estabelecimento
tem a maior nota de uma escola da rede estadual no Estado, com média 521,17
entre as provas objetivas. Para se ter uma ideia, a maior nota de uma escola da
rede estadual é 657,59 e há 650 escolas de rede estadual com nota maior que a
do estabelecimento alagoano.
Para estudar no
Tiradentes, o visual do aluno também tem que estar alinhado: ele tem de estar
com cabelos cortados e arrumados no padrão militar, uniforme limpo e passado a
ferro com vinco e, ainda, bater continência para professores, coordenadores e
direção.
O ritual dos
alunos começa com vistoria nos cabelos e nos uniformes, que são cinco ao todo –
sendo dois uniformes de gala usado para desfiles e solenidades. Durante a
semana, outras obrigações militares são atribuídas aos estudantes, que às
terças-feiras, fazem uma solenidade de hasteamento das bandeiras do Brasil, de
Alagoas e do colégio.
A diretora do
Colégio Tiradentes, coronel da PM (Polícia Militar) Fátima Escaliante, destaca
que a disciplina do aluno conta até na permanência dele na escola.
Diferentemente dos demais colégios, o regimento do Tiradentes permite que o
aluno indisciplinado seja expulso da unidade. No ano passado foram 14 alunos
expulsos. Entre especialistas da área, a seleção de alunos é vista como um
ponto negativo no processo educacional.
"Todo aluno
entra com dez pontos, à medida que ele vai deixando de cumprir obrigações, como
chegar atrasado, não estar com o uniforme de acordo com o dia ou estar com o
cabelo desalinhado, ele vai perdendo pontos. Ao atingir 3.9 ele vai para o
conselho para ser avaliado se permanece ou não", explica Escaliante. O
aluno que se envolver em agressões ou desrespeitar o professor comete falta
grave e é imediatamente expulso.
Patentes
Como na PM, há um
sistema de patentes e hierarquia: tenente, capitão, major, tenente-coronel e
coronel. A escala vai de acordo com a turma que está cursando, as notas e os
pontos que acumularam por estarem cumprindo as atividades em sala de aula e
extraclasse e, também as obrigações. No terceiro ano, o aluno destaque ocupa a
"patente" de coronel.
A nova coronel da
turma do terceiro ano B, Susana Glória dos Santos, 17, estuda no Tiradentes há
oito anos e diz que o segredo é a disciplina, motivação e dedicação nos
estudos. Filha de militar, ela conta que não tem dificuldades em cumprir as
regras da escola e o foco é nos estudos.
"Estudo pela
manhã e faço cursinho a tarde, mas à noite ainda dou uma estudada, por uma,
duas horas para fazer as atividades de casa. Temos também ter autocontrole para
não se desesperar nas provas para conseguimos notas boas e também se sair bem
no Enem", disse a garota.
Segundo o
professor de português e literatura, Paulo César dos Santos, a disciplina e o
treino são fatores de sucesso dos alunos nos exames como o Enem. "O aluno
escreve e nós corrigimos até o texto sair perfeito para entendimento de todos",
disse.
Especialistas
criticam
Especialistas
discordam da aplicação da militarização em sala de aula para obter resultados
satisfatórios.
A professora de
história, especialista em gestão de sistemas educacionais, Pilar Lacerda, diz
que o modelo abre mão da pedagogia ao apelar para a rigidez e a disciplina
militar.
"A escola de
educação básica é o lugar da formação de valores, de conhecer e respeitar o
outro. Do diálogo e da construção de normas comuns. Que cidadão está sendo
formado neste modelo militar? A não ser que o jovem queira seguir carreira
militar", argumenta Lacerda, que é presidente da Fundação SM.
Ela explica que
para estudantes se manterem focados nos estudos, a escola deve tornar a sala de
aula mais atrativa e menos burocrática.
"Que pense
no projeto pedagógico que seja construído para o estudante entender o mundo e
entender-se no mundo. Atiçar a curiosidade e incentivar a criatividade. Nada
feito a força funciona", explica a professora.
Filhos de
militares e filhos de civis
No estatuto da
escola, a oferta de vagas se destina, prioritariamente, a filhos de militares.
Mas a seleção é feita pelo rendimento em uma prova -- se o filho do militar não
obtiver nota para ingressar, sua vaga fica disponível para os filhos de civis
que, atualmente, são maioria (53%).
Para entrar no
Colégio Tiradentes, o aluno se submete a um concurso com provas de português e
matemática. O colégio tem 700 alunos distribuídos em turmas do 6º ao 9º ano do
ensino fundamental e do 1º ao 3º ano do ensino médio.
As aulas ocorrem
de segunda-feira a sábado, ou no período da manhã ou da tarde. Os alunos do
terceiro ano recebem reforço de disciplinas isoladas de cursinho pré-vestibular
que foi contratado pelo próprio colégio.
Fonte: Uol
Noticias Rio Grande do Norte
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