Originalmente desenvolvida pelo governo dos EUA, a darknet é hoje um paraíso para atividades ilegais, como pornografia e venda de drogas. Órgãos de segurança tentam invadir e desmantelar misterioso mercado negro online.
Foi na darknet
que um grupo de hackers que se autodenomina "Impact Team" publicou
recentemente dados de 37 milhões de integrantes dos sites de encontros Ashley
Madison e Established Men.
Se você está
curioso para ver se conhece algum dos nomes na lista, não pense que será tão
fácil assim. A darknet é inacessível para a maioria dos usuários da internet, e
uma busca no Google não vai encontrá-la, porque a ferramenta de busca não
indexa sites da darknet.
Geralmente,
transações "obscuras" tendem a acontecer nessa rede, envolvendo venda
online de drogas, pornografia infantil, informações sobre cartões de crédito e
armas, por exemplo. Originalmente desenvolvida pelo governo dos EUA, a darknet
também serve hoje de plataforma para lavagem de dinheiro e compra e venda de
outros bens e atividades ilegais com relativa impunidade.
Anônima
e descentralizada
Se a internet em
geral é uma "superestrada de informação", a darknet é uma pequena rua
que não aparece no GPS. A busca do Google não é capaz de acessar informações da
darknet, porque essas são escritas em linguagem diferente da usada na World
Wide Web.
Para acessar a
darknet, você precisa de uma unidade diferente de GPS – neste caso, um browser
chamado Tor. Ele é gratuito e tão fácil de instalar quanto o Firefox ou
qualquer outro navegador, mas funciona de maneira diferente.
O Tor faz com que
suas informações "pulem" diversas vezes pelo mundo antes do seu alvo
as receber, o que faz com que seja praticamente impossível rastrear quem as
enviou.
No Facebook, por
exemplo, o servidor da companhia envia dados diretamente para o seu computador
quando você clica na foto nova de um amigo. Na darknet, essa informação seria
fragmentada e espalhada pelo mundo, enviada e reenviada várias vezes, até
chegar ao seu computador como pacotes de dados, individuais e anônimos, cuja
origem não é clara. Compiladas, eles criariam um todo – a foto, nesse caso.
Esse processo de distribuição de dados faz com que a darknet opere de maneira
mais lenta que a tradicional World Wide Web.
Quando o FBI, o
Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos e a Europol conduziram a
operação Onymous, em novembro de 2014, eles tiraram do ar 27 sites da darknet.
O mais conhecido era o Silk Road 2.0, cujo operador foi preso.
A forma com a
qual a Onymous foi conduzida continua desconhecida. Numa entrevista concedida a
revista Wired, o chefe da Europol, Troels Oerting, disse que os agentes
preferiam manter a metodologia em segredo. "Não podemos compartilhar com
todo mundo a forma como fizemos isso, porque queremos fazê-lo de novo, de novo
e de novo."
Desde então, a
darknet tem estado relativamente tranquila, mas não foi desativada. Não é
aconselhável visitar sites da darknet, pois, além da ilegalidade de muitos
produtos oferecidos, não é possível verificar que informações do usuário serão
recolhidas ou roubadas durante a visita.
Páginas da
darknet podem ser reconhecidas pela terminação ".onion" – uma
referência à estrutura cheia de camadas da cebola (onion, em inglês). Usuários
do Tor costumam ir diretamente para os sites, usando seus endereços, exatamente
como na internet. Bitcoin é a moeda comum, trocada de forma anônima, mas que
pode ser convertida em dinheiro real uma vez acessada a conta de Bitcoin de um
indivíduo.
Liberdade de
expressão
Para chegar até
criminosos que utilizam a darknet, policiais, autoridades federais, agentes
secretos e redes internacionais de combate ao crime usam algumas táticas
surpreendentemente antigas.
Uma delas é a
aquisição de algum produto ilegal disponível no mercado da rede e analisar o
pacote e seu conteúdo quando chegar pelo correio. Assim, a polícia pode apurar
pistas sobre a origem da encomenda. Outra tática é fazer contato com os
proprietários dos sites e solicitar um encontro real para trocar informações e
bens.
Existe,
entretanto, o lado bom da darknet: a liberdade de expressão. A rede permite que
os usuários se comuniquem de forma anônima, exigindo que os governos tenham que
adotar esforços extremos para tentar localizá-los e identificá-los.
Para usuários que
vivem em regimes opressores, que monitoram ativamente, bloqueiam conteúdo na
internet ou adotam ações punitivas contra dissidentes, a darknet oferece
maneiras alternativas de se expressar livremente.
Vale o mesmo para
whistleblowers. A darknet é um lugar seguro para publicar informações de
crucial importância para a opinião pública, mas que pode colocar a pessoa
responsável pelo seu vazamento em perigo.
A darknet tem,
portanto, seu lado mau e, ocasionalmente, um lado bom. Se ao invés de
publicarem nomes de usuários, os hackers do caso Ashley Madison tivessem feito
vazamentos de emails provando corrupção em governos, a opinião do público sobre
os sites anônimos poderia ser agora bem diferente.
Fonte: Terra
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