Desde que os
primeiros leitores digitais foram introduzidos no mercado editorial, nos anos
1990, o universo da leitura vem sofrendo sensíveis mudanças. Enquanto algumas
pessoas passaram a temer pelo futuro do livro impresso, outras viram na
novidade diversas vantagens, como poder carregar vários volumes ao mesmo tempo,
sem se preocupar com o peso extra. Mas, como mostra uma reportagem do jornal
americano The Wall Street Journal, ao
contrário das primeiras previsões sobre hábitos de leitura, não são os
e-readers especializados, como o Kindle, da Amazon, ou os tablets como o iPad,
da Apple, que vão comandar a leitura digital. E, sim, os smartphones.
Por enquanto, os
tablets e os e-readers ainda são as plataformas mais populares para leitura de
livros digitais: segundo a Nielsen, a porcentagem de compradores de e-books que
liam prioritariamente em tablets era de 41% no primeiro trimestre de 2015,
comparado a 30% no mesmo período de 2012. Mas esse número pode mudar, como
indica outra pesquisa da Nielsen realizada com 2 000 pessoas em dezembro
passado, que constatou que 54% dos compradores de e-books usam seus smartphones
para ler pelo menos em algum momento. O número de pessoas que lê
prioritariamente em celulares saltou de 9% no primeiro trimestre de 2012 para
14% no mesmo período de 2015.
Enquanto isso,
aqueles que leem obras digitais principalmente em e-readers especializados
passaram de 50% em 2012 para 32% em 2015. Mesmo a leitura preferencial em
tablets apresentou queda, ainda que tímida, de 44% do total de adeptos do
digital, no primeiro trimestre de 2014, para 41% no mesmo período de 2015.
“O futuro da leitura digital está nos celulares”, disse ao Wall Street
Journal a editora Judith Curr, da Atria Books, selo da editora americana
Simon & Schuster.
A conveniência é
uma das principais razões para o aumento da leitura em smartphones. Em uma fila
ou na espera pelo transporte público, por exemplo, é possível que uma pessoa
não tenha um livro impresso, um e-reader ou um tablet – mas as chances de ela
ter um celular são consideráveis. Nos Estados Unidos, 64% dos adultos possuem
um smartphone, segundo pesquisa do Pew Research Center, número que vai crescer
para 80,8% da população americana em 2019, de acordo com projeção da empresa
Forrester Research. No Brasil, os smartphones eram responsáveis por 32,4% do
total de conexões móveis em 2014, segundo pesquisa da GSM Association, que
projeta que esse número salte para 72,2% em 2020.
A evolução dos
smartphones, com telas maiores e mais nítidas, também está entre os motivos da
sua adoção para a leitura, segundo o jornal. Desde que o iPhone 6 e o iPhone 6
Plus foram lançados, em setembro de 2014, por exemplo, a Apple viu o número de
download de livros nos smartphones crescer – 45% dos livros passaram a ser
transferidos para os celulares, ante 28% antes do lançamento dos dois modelos.
De acordo com a empresa de pesquisa eMarketer, os smartphones possuíam tela
média de 5,1 polegadas em 2014, comparada a 3,9 polegadas em 2011.
No mundo
literário, o debate atual é se um celular possibilita que os leitores mergulhem
nas obras da mesma forma que fariam (ou faziam) com livros impressos, dada a
quantidade de alertas e notificações que chegam aos telefones atualmente. Para
a professora de linguística Naomi S. Baron, da American University, os
smartphones foram criados para distrair seus usuários. O cérebro de quem possui
um celular como esse já está preparado para se distrair com o aparelho, mesmo
que os alertas estejam todos desligados. De acordo com o Wall Street
Journal, alguns usuários do Twitter afirmam ter lido obras densas como Moby-Dick,
de Herman Melville, Guerra e Paz, de Liev Tolstói, e Em Busca do
Tempo Perdido, de Marcel Proust, em seus smartphones.
Mas, da mesma
forma como os e-readers e os tablets não substituíram os livros impressos, é
pouco provável que os celulares consigam tal façanha. Algumas pessoas
habituadas a ler em smartphones afirmam que sentem um vazio quando terminam um
livro nos aparelhos, já que não há indicativo físico de que o fim está próximo
– o que acontece com os impressos. Outros afirmam que não é tão fácil emprestar
livros para amigos e parentes. E muitos deles ainda leem volumes impressos em
parte do tempo.
Fonte: Veja
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