Nada, nem
ninguém, no mundo (ou fora dele) é capaz de oferecer tanto carinho e um “olá”,
“bom dia”, ou qualquer recepção tão calorosa quanto o seu cão. É choro, algumas
vezes latido, pulos de alegria, cheiro, lambida nos pés, mãos e, se possível,
na cara. É um momento único para ele, mesmo que pareça um ritual diário para
você. Mas porque ele reage dessa maneira? O que se passa na cabeça de um
cachorro ao reencontrar seu dono? Será que nós agimos da maneira correta para
retribuir esse incalculável afeto?
Pois bem, o site
IO9 publicou uma matéria interessante sobre as reações dos bichinhos, na qual
explica, com uma visão especializada, exatamente o que acontece no momento em
que eles reencontram seus donos ou qualquer pessoa que gostam. Acompanhe os
pontos a seguir e identifique como deve tratar e abordar seu cão no momento do
reencontro.
A evolução da
espécie
Cães possuem um
parentesco com lobos. Para ser mais preciso, ambas as espécies possuem um
ancestral em comum. Para entender alguns dos comportamentos dos cães, é
importante saber um pouco mais sobre a relação entre essas espécies que foram
separadas há aproximadamente 10 ou 15 mil anos. Mesmo a distância genética já
existindo há um longo tempo e a relação comportamental entre eles mesmos e com
os ancestrais serem apenas uma especulação, muitas características são comuns
aos cães e lobos.
Basicamente, pode
se dizer que a característica que começou a distanciar os cães dos lobos é a
capacidade de socializar. De acordo com o neurocientista autor do livro “Como
os cães nos amam”, Gregory Berns, é possível observar claras semelhanças entre
os lobos e os cães atuais, mas há uma diferença fundamental. “Dos lobos
ancestrais, aqueles mais sociáveis, que conviviam com os humanos, foram esses que
provavelmente deram origem às espécies que antecederam os cães. Eles se
juntaram aos humanos e evoluíram para esta condição. Já os antissociais se
tornaram os lobos selvagens atuais e sem qualquer ligação com humanos”, afirma
Berns.
Entre
as características observadas, que são comuns a lobos e cães estão o
comportamento de lamber uns aos outros em uma espécie de cumprimento durante um
reencontro. A função de socialização desta ação existe, mas nos lobos também
pode significar uma forma de checar se o outro possui comida e o que trouxe
para “casa”.
Já
o neurocientista Giorgio Vallortigara ressalta que a forma de cumprimentar
apresentado por cada espécime de lobo, assim como nos cães selvagens, varia de
acordo com a personalidade. Porém, os lobos vão mudar conforme a relação que
mantém um com o outro. E para as espécies atuais de cães, a habilidade para ser
domesticado e interagir com humanos na linguagem de gestos e sinais tem sido a
mudança mais significativa da adaptação para sociabilidade.
Jessica
Hekman, veterinária que mantém um blog sobre cães, relatou o que observa quando
está no Parque dos lobos em Battle Ground, Indiana, Estados Unidos. Segundo
ela, um estudo procurou afastar alguns lobos durante alguns dias e depois
coloca-los novamente juntos. Durante o reencontro, ela afirmou que os lobos
apresentam um comportamento extremamente efusivo entre si, o que não é comum
acontecer tanto entre os cachorros. Os cães têm esse tipo de atitude mais
esporadicamente e com menos intensidade.
Há outra
diferença importante a ser relatada entre os comportamentos de cães e lobos.
Segundo Hekman, cães possuem mais abertura a aceitar novidades, enquanto lobos
têm mais receio. Ou seja, mesmo sendo forte o bastante para te matar, a
tendência é que os lobos façam isso para se proteger por estarem com medo de
você. Por isso, os cães se tornaram, ao longo dos anos, mais sociáveis. Tendo
em vista o passado próximo dos lobos, com um comportamento semelhante, é
interessante que os cães tenham desenvolvido uma convivência tão boa com os
humanos.
Essa
sociabilidade deixa de ser uma simples distinção na visão de Gregory Berns. O
neurocientista afirma que essa característica acabou se tornando uma fortíssima
estratégia de adaptação ao meio, pois acabou dando mais resultados para os cães
do que para os lobos em termos de sobrevivência e procriação. “Dê uma olhada ao
redor do mundo e veja quantos cachorros existem. Com eles, essa se provou ser
uma estratégia evolutiva altamente efetiva”, concluiu Berns, fazendo referência
ao número muito maior de cães do que de lobos existentes na Terra.
Dessa forma, é
importante entender essa relação entre cães e lobos e seus ancestrais para
entender como e por que há uma afinidade por parte dos cachorros com seres
humanos. Mas o que eles, os cães, pensam sobre nós?
A visão dos cães
sobre os humanos
Os cães são
capazes de nos reconhecer. Falando assim, de uma maneira simples, pareceria
óbvio, mas a questão aqui é que pesquisas mostraram que os cães são capazes de
reconhecer humanos pelo cheiro e também conseguem diferenciar perfumes
familiares de aromas estranhos. Ou seja, eles nos reconhecem e sabem quem
somos, bem como também sabem diferenciar os humanos de outros cachorros.
Isso ocorre pela
presença de sensores de aromas que conseguem discernir com clareza o que são
humanos e o que são cães. Segundo Berns, um estudo mostrou que o cheiro de um
humano familiar ativa uma resposta de recompensa no cérebro e nenhum outro
perfume produziu esse efeito.
O
trabalho mencionado por Berns foi realizado a partir de imagens do cérebro de
um cachorro quando submetido a estímulos. O pesquisador explica que o estudo
tem revelado que os cães de fato amam os seus donos, mas não por associação a
alguma coisa, por exemplo, comida. “Eles amam a companhia de seres humanos
simplesmente por ficarem juntos”, completou Berns.
Jessica
Hekman atenta para o fato de que muitas vezes os cães agem de maneira diferente
com outros cães e humanos, às vezes até de maneira agressiva que não acontece,
ou não é comum, com seus donos. O ponto aqui é entender que os cães sabem
diferenciar humanos como um grupo e cães como outro. Assim sendo, segundo
Hekman, mesmo que se sintam bem em nossa companhia, é provável que saibam que
nós somos diferentes deles.
Essa diferença
também pode ser notada pela procura de apoio. Cães tendem a buscar ajuda de
humanos ao invés de outros cães. Para a doutora Hekman, esse é um possível
sinal de que os cães entendem que humanos podem oferecer recursos que outros
cães não podem.
Com
toda essa análise, mas sem saber o que realmente os bichinhos pensam sobre nós
humanos, fica sempre a dúvida se eles nos veem como suas famílias. Hekman
acredita que sim, isso acontece e, para tentar responder isso, recorre à
relação do ancestral em comum com lobos. “Nas matilhas de lobos, eles vivem em
família, literalmente. Geralmente está o pai, a mãe, filhotes e um ou outro
espécime de ninhadas de anos anteriores que ainda não se vira sozinho”,
lembrou.
Portanto, se os
cães têm reações com humanos que se assemelham com as que lobos têm com outros
lobos, provavelmente eles sim, nos veem como seus familiares.
Sim, eles ficam
felizes em nos ver
A alegria que os
cachorros sentem ao reencontrarem os seus donos após um tempo afastados é
semelhante à experiência humana de reencontrar algum amigo ou alguém que gosta
muito. As respostas cerebrais desses momentos apresentadas em cães são análogas
às mostradas por seres humanos, conforme explicou Berns ao IO9. Como não
possuem a mesma capacidade comunicativa e memorial dos humanos, Berns diz ser
possível verificar que as reações dos cachorros são puramente emocionais, pois
não gravam nomes ou rótulos de pessoas.
Em outras
pesquisas foi verificado que, em situações similares, o comportamento de um
cachorro é semelhante ao de um bebe quando encontra a mãe. Entretanto, a
variação na forma de receberem cada pessoa, a cada dia, varia de acordo com
alguns fatores. Entre eles, o temperamento do cão, a personalidade do dono, a
natureza da relação, níveis de estresse e ansiedade e a capacidade de
autocontrole do cão.
Essas
variantes explicam também a diferença entre reações de cães e as nossas, já
que, muitas vezes, não possuímos um comportamento tão empolgado. Essas
diferenças acontecem principalmente em função do estresse, o qual se manifesta
de maneira diferente em humanos e cães.
“A
separação entre os cães e seus donos não é voluntária para os bichos. Nunca é
natural para um cão, se separar de seu grupo”, afirma Giorgio Vallortigara. Quando
eles procuram se afastar e ficar um tempo sozinhos, é diferente, já que fazem
por conta própria e sabem que podem se reaproximar a qualquer momento. A
separação não voluntária, se não bem aceita pelo cão, justifica os altos níveis
de exaltação durante a recepção e os cumprimentos ao reencontrar seus donos.
De qualquer
forma, Berns ressalta que o reencontro efusivo pode ser uma espécie de ritual
pelo vínculo social ou a manifestação de curiosidade. Ele explica que ao
cheirar ou lamber os donos, ele está tentando descobrir por onde esteve, com
quem esteve e o que estava fazendo. Se nesse tempo, você estiver com outro
cachorro, ele vai saber e pode reagir de maneiras diferentes. Como Berns
relata, o cão dele chora bastante.
Mas o que se pode
fazer para retribuir tanto carinho e atender às expectativas dos bichos quando
os reencontramos?
Retribuindo o
afeto e o carinho
Nesse momento,
conforme ressalta o físico veterinário Marcello Siniscalchi, é bom analisar o
que a situação exige, bem como o que o seu cão precisa. De qualquer maneira, é
importante sempre responder à aproximação com o seu cão.
Cada animal tem
sua personalidade e forma de agir e a reação dos donos deve estar adequada com
essa característica de seu cão. Alguns cães precisam inclusive de treinamento
para aprenderem a recepcionar seus donos e qualquer outra pessoa com as quase
possuam afinidade.
Jessica
Hekman conta que, com a sua cadela Jenny, teve que ensinar a cachorra a subir
no sofá para recebe-la cada vez que retorna para casa. Isso porque o entusiasmo
e a forma calorosa de recepção não a agradava, pois Jenny a todo momento pulava
tentando atingir a sua face para lamber. Agora, no sofá, ela fica no mesmo
nível de Hekman e facilita a chegada da dona para que a cachorra lamba a sua
bochecha. “É uma parte muito importante deste ritual para ela”, ressalta
Jessica.
A
veterinária também alerta que ao chegar em casa, o importante não é dizer o que
o cão não pode, mas sim indicar o que ele deve fazer. No caso dela, o “não pule
em mim” deu lugar ao “suba no sofá”, conforme ela mesma explicou.
Se
você possui um cachorro e se familiarizou com as situações descritas, saiba que
o ritual de recepção e cumprimentos é importante para o seu bichinho. Então,
conforme recomenda Hekman, não deixe de realizar isso com seu animal, mas
procure encontrar uma maneira que deixe a situação agradável para todos.
Fonte: Mega
Curioso
Postar um comentário